Do inominável

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ou

Aquilo que não tem nome, não é capturável. É vivível

 

Sexto dia do laboratório

Há três dias venho refletindo sobre os aquilos que não consigo nomear. Ou as experiências que não se encaixam em nomes. Investigo diariamente o meu rol de vocábulos, naquela ânsia racionalista de explicação.

O que é isso? O que estamos fazendo? Como traduzir? Como registrar?

O mundo opera por categorias. É arte? Não é? É homem, mulher? Não é? É bicha, sapatão? Não é? E me pergunto a que isso serve, ao cabo. Dar nome é uma forma limitada, mais comprometida com a captura do que com a vida. A existência acaba por se tornar, ela mesma, uma prestação de contas do que a gente (acha que) é, e do que a gente (acha que) tem feito (projetos, rede social, currículo, identidade).

Numa mesa de bar, na quinta-feira, converso com Bruna Rafaela:

-Hoje caminhamos pela Conde da Boa Vista. Do GTP+ até o São Luis. Na sexta vamos à praia, tomaremos cerveja e banho de mar. Na segunda, faremos um churrasco em Bola na Rede. Iremos juntxs ao mercado comprar carne e carvão. Comer. Beber. Dançar. Cantar. Conversar. Olhar. Sorrir.  

Isso é! O quê, exatamente, não sabemos. E talvez nem devêssemos querer saber.

Tentamos:

No glossário surgem: Deriva, deambulação, performance do cotidiano, performatividade, imersão, vivência, situação, momento, estética da existência, imantação. Sim, pairamos sobre esse esses conceitos (até mesmo porque já tem gente pensando sobre as ineficácias de categorizações mais estreitas já faz um tempo – Michel Foucault, Gui Debord, Henri Lefebvre, Hélio Oiticica, Lygia Pape...).

Caminhar como processo de descoberta. Estar no mundo como modo de interferência mútua – co-criação. Encontro como formação e produção político-artística. Contágio, contaminação e infiltração. A arte da vida. A vida como obra. Vidobra. Isso sim parece mover e interessar: a criação de si. Como apostamos no início e voltamos pra ele – mas já com tantos outros significados incorporados: narrar-se é criar-se. Encontro é potencia. Processo é arte.

Se dentro da arte a categorização é uma forma de assimilação pelo mercado e vigia do que pode ou não ser feito, e de que estética deve ter (forma, conteúdo, modos de fazer) com os corpos não é diferente. A nomeação também é forma de captura e aponta para a homogeneização também daquela eleito como diferente. Inominável parece preciso na sua imprecisão. Sem nome parece uma bagunça necessária para manutenção de uma tentativa de autonomia. “Estar” ao invés de “ser” é o que precisamos para a presença e para o presente.

Quem sou? Ninguém.
Quem és? Não tenho nome
O que fazes? Fronteiro entre o possível e o impossível
A que te filias? Ao mesmo tempo a mim, ao outro e ao mundo. E, sempre que consigo, a nada.

Post enviado por Chico Ludermir em seg, 13/11/2017 - 01:40

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